Infográficos

O que este vídeo tem de diferente?

 

A narrativa se baseia em linguagens próprias de infográficos, recursos originários de mídia impressa, utilizados para informar de forma rápida e objetiva temas de certa complexidade. Através de recursos de imagens, elementos gráficos e textos curtos, procuram apresentar uma visão geral de sistemas, fatos ou conceitos que mantêm relação entre si. Na internet, estes recursos adicionam elementos de animação e às vezes som, tornando-se mais efetivos para explicar, também de forma rápida e objetiva, temas cuja complexidade demandaria textos excessivamente longos para este meio, procurando expor a informação com clareza e rapidez e permitindo a sua manipulação pelo usuário.
A literatura acadêmica que explora as aplicações de infográficos em educação é incipiente, mas diante das possibilidades de aprendizagem em ambiente virtual, o tema torna-se instigante, demandando pesquisas que explorem o assunto com profundidade.

É possível utilizar infográficos enquanto objetos de aprendizagem?

Verifique os exemplos a seguir e suas possibilidades de utilização didática.

Exemplos

Fig 1 – A utilização das redes sociais para promoção de projetos sociais. Disponível em http://www.compromisoempresarial.com/multimedia/2010/06/como-ayudan-las-redes-sociales/

O infográfico da figura 1 tem caráter de mídia impressa, mesmo tendo como temática utilização de mídias sociais veiculadas na internet.

A informação está totalmente agregada no mesmo plano: pequenos textos e elementos gráficos (ícones, imagens, figuras geométricas, linhas e cores) conjugam-se de forma a apresentar uma informação “completa” sobre o tema. Mas não apresenta possibilidade de manipulação pelo usuário.

Como este tipo de infográfico pode ser utilizado para propor um conteúdo didático?

Uma de suas vantagens é a possibilidade de visualização geral e imediata de informação não fragmentada e o desenvolvimento de um percurso que se fosse explorado de forma unicamente textual poderia ser extenso, não permitindo esta visão rápida. A capacidade de sintetizar conteúdos também pode ser explorada para fixação dos elementos principais dos mesmos, em caminho inverso, como um resumo ao final de uma aula.

Fig 2- Evento Geofísico: atividade sísmica no Marrocos, 1960. Selecionado anteriormente por quantidade de vítimas, entre os anos de 1960 e 2011.

Fig 3 – Evento hidrometeorológico: ciclone tropical em Bangladesh. Selecionado anteriormente por número de vítimas entre os anos de 1992 e 2011.

As figuras 2 e 3 são parte de um mesmo infográfico sobre 50 anos de Desastres no Mundo (1960-2011) publicado na versão online do jornal O Estado de São Paulo. Cada uma das ilustrações é resultado das interações do usuário, delimitando o tipo de evento, a quantidade de pessoas atingidas e o período de ocorrências. Ao escolher um dos círculos coloridos sobre o globo, o quadro à esquerda delimita, em fundo negro, as informações sobre local de ocorrência, tipo de ocorrência e número de vítimas; demonstrando as possibilidades de visualização de informações variadas em uma mesma tela através da manipulação dos recursos da mídia.
Você pode acessar este infográfico em Estadão e experimentar as interações.
Os dois exemplos representam a primeira e a terceira geração na evolução dos infográficos segundo Amaral (2009, apud Bottentuit, Lisboa e Coutinho, 2011, 4), onde o primeiro se aproximaria da mídia impressa e o outro, através da conjugação de linguagens e possibilidades interativas, também é comumente denominado multimídia.

Interações pedagógicas

Quais interações são possíveis a partir da apresentação de um conteúdo “globalizado” em um infográfico?

Talvez o aluno possa estabelecer melhor a relação entre dois ou mais eventos históricos, como por exemplo, de causa e efeitos, em uma linha do tempo ilustrada – que também lhe pode trazer maiores informações, através das imagens, sobre modos de viver e conviver em diferentes épocas.

Quais as interações possíveis a partir do uso do infográfico multimídia exemplificado (50 anos de Desastres…) em uma aula de Geografia ou Ciências? Quais relações são possíveis de se estabelecer entre o conteúdo programático e as ocorrências “descritas” neste infográfico?A partir de quais manipulações o aluno poderá estabelecer estas correlações?

Os infográficos se apresentam como excelentes recursos comunicacionais através da conjugação de informações em texto e diversos elementos gráficos, bem como animações associadas a manipulações do usuário segundo seus ritmos e percursos individuais. Poderão trazer melhores resultados de aprendizagem se as interações resultantes forem decorrentes também de propostas desenvolvidas qualitativamente pelo professor orientador.

Critérios para avaliação de um infográfico

Considerando sua utilização didática, os infográficos devem ter características que lhes imprimam qualidade enquanto objetos de aprendizagem. Estas estariam relacionadas àquelas descritas por Pereira et al. (apud Bottentuit, Lisboa e Coutinho, 2011, 2) para os mesmos enquanto objetos de informação, destacando-se especialmente: a legibilidade (boa qualidade de visualização e compreensão); a correção; a objetividade; a precisão e citação de referências.

Linguagens e ferramentas multimídias

É importante ressaltar que computadores e outros equipamentos midiáticos estão cada vez mais presentes no cotidiano das gerações de estudantes que estão na educação básica e que chegam à graduação. As linguagens midiáticas aí existentes e a familiaridade com as mesmas determinariam formas de se relacionar com os produtos digitais, podendo facilitar processos de aprendizagens sistemáticos e formais. Para isso precisaríamos analisar tanto os elementos que as tornam linguagens de mídia, como as questões pedagógicas referentes à sua utilização nos processos educativos.
Carvalho (2008), Costa e Marins (2012) apresentam diversas ferramentas gratuitas da Web 2.0 que permitem a produção, editoração e compartilhamento de conteúdos em textos, imagens, sons e movimento; na forma de documentos de textos, mapas mentais, wikis, podcasts, vídeos, ambientes modelados, etc. Considerando que a apropriação destas ferramentas permitiria novos usos, você acha que professores e alunos poderiam produzir infográficos específicos para determinados conteúdos? Esta é uma questão provocativa e importante, conforme apontam Costa e Marins (2012, 2), no que se refere à escolha de artefatos de mídia e à criatividade na construção de conteúdos em processos educativos.

O artigo O infográfico na Educação à Distância – uma contribuição para aprendizagem (BRAGA, 2009) traz informações básicas sobre o tema, e você poderá acessá-lo aqui. Através dele você poderá aprofundar entendimento sobre este conteúdo.

Outras Referências:

BEZERRA, Carolina C; SERAFIM, Maria Lúcia; MEDEIROS, Laércia. Infografia como alternativa para o ensino à distância. Artigo. Revista Digital Hipertextus, n 6, Ago 2001. Disponível em http://www.hipertextus.net/volume6/Hipertextus-Volume6-Carolina-Cavalcanti-Bezerra_Maria-Lucia-Serafim_Laercia-Maria-Medeiros.pdf . Acesso em 13 jun 2012.

BOTTENTUIT JUNIOR, João Batista; LISBOA, Eliana S; COUTINHO, Clara P. O infográfico e suas potencialidades educacionais. IV Encontro Nacional de Hipertexto e Tecnologias Educacionais. Universidade de Sorocaba. 26-27 set 2011.

BRAGA, Carla Souza. O Infográfico na Educação à Distância: uma contribuição à aprendizagem. Disponível em http://www.abed.org.br/congresso2009/CD/trabalhos/1352009201831.pdf. Acesso em 12 jun 2012

CARVALHO, Ana Amelia A. Manual de Ferramentas da Web 2.0 para professores. Lisboa: Ministério da Educação, DGIDC, 2008.

COSTA, Rosa Maria; MARINS, Vania. Design de Atividades para Ambientes Virtuais. Disponível em http://pigead.lanteuff.org/mod/resource/view.php?id=4527. Acesso em 6 jun 2012.
___________________________. Ferramentas da Web 2,0 e comunidades de prática. Disponível em http://pigead.lanteuff.org/mod/resource/view.php?id=4539. Acesso em 13 jun 2012.
____________________________. Ambientes Virtuais de Aprendizagem. Disponível em http://pigead.lanteuff.org/mod/resource/view.php?id=4540. Acesso em 13 jun 2012.

LARRAZ, Rosana. Infografías como recursos didácticos. Disponível em http://www.cuadernointercultural.com/infografias-recurso-didactico/. Acesso em 20 jun 2012

A Infografia, um instrumento para a análise. Disponível em http://traductor.universia.net/traducirPweb.do?direccion=es-pt&url=http://www.uhu.es/cine.educacion/periodico/12infografiaperiodico.htm. Acesso em 21 jun 2012.

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Vídeo em salas de aulas presenciais e virtuais

A leitura do mundo precede a leitura das palavras.
Paulo Freire

O mundo em que vivemos é permeado por imagens que nos são apresentadas pelas revistas, jornais, cinema, TV e Internet. Conhecemos o mundo através dessas imagens: viajamos pelo Butão sem nem sabermos onde fica, opinamos sobre fatos que aconteceram na Siria sem os termos presenciado e conhecemos os outros através de uma tela. As imagens, estáticas ou em movimento, mediam nossas relações e nosso conhecimento.
Vemos – lemos – um mundo mediado. Mas as imagens que nos chegam através dos mídias são produzidas com propósitos de informação e comunicação perante os quais nem sempre nos posicionamos como leitores competentes. Somos expectadores consumidores de informação: esta é uma condição embutida nos produtos de mídia.
A pretensão aqui é chamar sua atenção para aspectos da linguagem de vídeo e da sua utilização enquanto objeto de aprendizagem, e as possibilidades de sua produção por professores considerando as possibilidades advindas das tecnologias digitais.

Formas de Linguagem
A forma de linguagem utilizada preferencial mente nos ambientes EAD é a escrita. Geralmente os temas abordados estão na forma de texto escrito. Poucas imagens são apresentadas. As interações são preferencialmente na forma escrita como apontam Costa e Marins (2012), e é a partir dos comentários e tarefas escritas desenvolvidas pelos cursistas  que se estabelecem as avaliações de aprendizado dos mesmos. Desta forma evidencia-se o domínio da palavra escrita sobre outras formas de linguagem no ambiente EAD e em outros ambientes acadêmicos, pois é com  ela que se desenvolve a abstração, o rigor e a lógica.
Mas é interessante pensar que o ambiente de aprendizagem à distância se projeta preferencialmente sobre uma tela, originalmente domínio de imagens em movimento.
O que nos leva a seguinte questão:
O papel do vídeo no ambiente EAD resume-se a ilustração de conteúdos, considerando seu aspecto motivacional, ou ele pode assumir outros papéis?

Linguagem de Vídeo
Moran (1995) diz que o vídeo explora o ver e que este está, na maior parte das vezes, apoiando o falar, o narrar, o contar histórias. É através da fala que o vídeo se aproximaria do cotidiano, de como as pessoas se comunicam habitualmente. E este caráter de familiaridade da fala no vídeo se expressa na forma de narrativas, gênero muito familiar, pois vem expresso na voz das mães que contam histórias para os filhos, nos grandes romances dos livros, nas telenovelas ou nas maiores bilheterias do cinema. Elas contam trajetórias plenas de emoção, confrontos, desafios, superações…
Méliès passou a utilizar a narrativa no cinema e transformou registro de informação em
Sétima Arte, mesmo não tendo o som da voz nas falas de seus personagens. Narrativa é gênero literário que migrou para o teatro e de lá migrou para o cinema, ou que migrou para o Rádio e de lá migrou para a TV. Do cinema e da TV migrou para as telas dos computadores, celulares e  tablets, contando e recontando histórias.
Ao observar os ritmos da TV que molda nosso cotidiano, Moran (1995) afirma que “a lógica da narrativa não se baseia necessariamente na causalidade, mas na contigüidade, em colocar um pedaço de imagem ou história ao lado da outra” e que esta seria uma fórmula adaptada ao homem contemporâneo, mais instável, mais dinâmico.
Desde os irmãos Lumière até a TV e cinema de nossos dias, a narrativa baseada em imagens transformou-se, subdividiu-se em estilos, especializou-se.  Suas formas de fazer se baseiam na conjugação de diversas linguagens:  visual, falada, musical, escrita e no caso de vídeos produzidos com finalidades didáticas, também linguagens gráficas, combinadas para atingir nossos sentidos, e assim  fornecer informação. O produto final de vídeo pode seduzir, entreter, projetar-nos por outros tempos e espaços.
As narrativas em vídeo seriam então excelentes interlocutores didáticos na apresentação de conteúdos de História e de histórias das outras ciências. Mas e em relações às disciplinas técnicas?

Edutainment
O conceito Edutainment conjuga educação e entretenimento, os produtos de vídeo que o seguem baseiam-se na narrativa para a construção do seu design, utilizam recursos de linguagem oriundos dos vídeos de entretenimento, buscam a afetividade antes da razão, e apoiam-se em teorias psicológicas que apontam o lúdico como facilitador de aprendizagens, sendo este o fator que mediaria as aprendizagens a partir dos vídeos. O Edutainment produziu especializações que podem ser exemplificadas através de diferentes canais de TV: Discovery Channel, National Geografic, History Channel, mídias de padrões internacionais. É interessante observar como se faz a construção do vídeo como objeto de entreter (para seduzir) e educar (aprender). A fórmula combina, através de uma narrativa dramatizada, elementos de informação através de voz de autoridade (geralmente uma entrevista), recursos fotográficos, grafismos, pequenos textos, animações, som incidental e música. Se você conhece os canais de TV, é capaz de reconhecer estes elementos.
Para saber mais sobre princípios gerais do edutainment e outros tipos existentes, clique aqui.  

Formas de utilização de vídeo
Moran (1995) apresenta propostas de utilização de vídeo em sala de aula, e algumas delas poderiam ser utilizadas em um programa EAD. Veja a lista abaixo:
•    Vídeo como SENSIBILIZAÇÃO – para introduzir novo assunto, despertar curiosidades, suscitar pesquisas. Por exemplo, Avatar, na demanda de discussões sobre meio ambiente.
•     Vídeo como ILUSTRAÇÃO – para compor cenários, situar em tempo histórico, aproximar realidades distantes. Por exemplo, Alexandria, para situar as pesquisas de Hipácia no campo da Matemática, ou as alterações das relações de poder (e saber) oriundas do declínio do Império Romano.
•    Vídeo como SIMULAÇÃO – para simular situações de perigo, evitar custos, reduzir tempo. Representar cenários e sistemas completos, como por exemplo o vídeo Tous à orbite!, que apresenta os movimentos da Terra e as relações estabelecidas por estes em nossa vida cotidiana.
•    Vídeo como CONTEÚDO DE ENSINO – informando sobre tema específico ou permitindo abordagens interdisciplinares. Repete-se a indicação anterior (Tous à Orbite) e indicamos  todos os episódios do Telecurso 2000.
Embora os exemplos citados sejam originários da TV ou do cinema, haveria impedimentos de que fossem utilizados em ambientes EAD? Outros endereços online, tais como o YouTube, ou o Netflix podem se configurar como repositórios para arquivos de vídeo, em paralelo ao ambiente de um curso virtual? A segunda questão parece responder à primeira…

Interações a partir de vídeos
Para garantir uma aprendizagem dos conteúdos expostos em um filme o professor tutor deve propor atividades interativas seguindo as mesmas orientações apresentadas por Costa e Marins (2012) em relação à leitura de um texto escrito. O aluno lê, vendo. O vídeo é um tipo de texto, mais rapidamente apreendido, mas que em função educativa também necessita de elaborações posteriores.
Uma das principais formas de aprender com o vídeo é com o desenvolvimento de análises. Podemos listar cinco tipos de análise (adaptado de Moran, 1995):
•    Geral: aspectos positivos e negativos
•    De conteúdo: conceitos e ideias principais que passa
•    De implicações: significados e consequências dos assuntos tratados no filme
•    De forma: recursos utilizados pelo autor para dar ênfase a determinados aspectos do vídeo
•    De valores: quais valores são passados através do tema do filme, de seus personagens, das ações que têm diante das situações propostas.

Produção de vídeos por professores
É possível que os próprios professores desenvolvam vídeos para apresentação de conteúdos.
A roteirização é passo fundamental para o desenvolvimento de um conteúdo em vídeo. Um roteiro prevê cenários, personagens, falas, tomadas de cena, etc. A partir do roteiro serão previstos tempos, materiais a serem utilizados, custos, etc.
Os vídeos podem ser editados em aplicativos dos próprios sistemas operacionais ou em outros  disponibilizados gratuitamente na forma on line, como o Windows Live Movie Maker, e o KDEenlive . Também existem diversos tutoriais em vídeo sobre a utilização destes aplicativos, bastando uma pesquisa no próprio YouTube para encontrá-los.
O vídeo abaixo foi desenvolvido para utilização com alunos da EJA na Escola Estadual Manuel de Abreu, uma interferência em função de fatos ocorridos no ano de 2010 que apresentavam demanda pedagógica.  Elaborado em pouquíssimo  tempo, a partir de vídeos gravados com uma filmadora digital doméstica, combinados com recursos de som e imagens disponíveis na internet , sendo estas editadas no aplicativo Paint (Windows) e o vídeo final no WMM (Windows). A maior dificuldade foi encontrar recursos de imagem compartilhados através de licença que se adequassem às perspectivas do roteiro, mesmo consultando sites como Domínio Público ou Wikimedia Commons à época de elaboração do vídeo. O vídeo foi apresentado para os alunos da Fase II e posteriormente o professor de sala de aula produziu texto coletivo sobre o tema.


Produção de vídeos por alunos
Fresquet (2005) apresenta uma proposta de trabalho com os alunos, baseada em vivências desenvolvidas a partir das experiências cinematográficas que contribuirão para a formação de novos cidadãos. Com sessões de exibição ou com a realização dos minutos Lumière (consiste em filmar um plano fixo, sem edição, durante um minuto, como os ancestrais inventores do cinematógrafo), é possível experimentar as linguagens cinematográficas e um novo olhar sobre os audiovisuais.
Para conhecer a proposta de Fresquet, clique aqui.

Compartilhamento de vídeos
O YouTube, como repositório mais popular de vídeos na internet, é um dos mais utilizados por instituições educativas e professores para divulgação de trabalhos, com produções originais ou compilações de origens diversas.
Uma das características mais interessantes do site é a possibilidade de comentar o vídeo, o que possibilita a criação, por parte da instituição ou do professor autor (divulgador) a produção de uma espécie de fórum informal para as discussões dos conteúdos de determinado vídeo, ampliando discussões que se dariam exclusivamente no ambiente de aprendizagem.
Como exemplos de instituições que compartilham conteúdos no YouTube estão:
Telecurso e TV Escola. E canais de vídeo de professores como o do Professor Leopoldo De Meis.

Conclusão
Para fugir de uma relação passiva de expectador e assumirmos postura de leitores críticos dos vídeos enquanto produtos de mídia, precisamos educar o nosso olhar para as estratégias utilizadas em sua produção – as linguagens utilizadas para nos seduzir e conquistar. A educação do olhar pode ser desenvolvida através da observação de determinados tipo de filmes, de produtos da TV; de acordo com propósitos bem definidos, observando os conteúdos e as formas de dizê-lo, os elementos de linguagem que evidenciam leituras e outros que se escondem diante dos nossos olhos.
É preciso estar atento ao que aponta Fischer (2002), por exemplo, quanto aos modos de educar na e pela TV:

… a TV cria ou reforça  processos de inclusão e de exclusão, quanto a classe social, o gênero, etnia, geração, profissão, e assim por diante. Ou seja, a transformação de nossas vidas em espetáculo está diretamente relacionada a uma série de preconceitos, a uma série de valores e de definições a respeito do que são, por exemplo, determinados grupos na sociedade: as mulheres, os negros, os pobres, os adolescentes de classe média, os trabalhadores, etc.” (FISCHER, 2002, p 157)

O ambiente EAD é um espaço privilegiado para estas leituras, porque se apoiam em olhos coletivos, em pontos de vista diferenciados, que podem extrapolar aprendizagens básicas e construir saberes sobre formas de ver e de se ver de outras formas.
Pois é possível ler, vendo.

Referências:

COSTA, Rosa Maria; MARINS, Vânia. Ferramentas da Web 2,0 e comunidades de prática. Disponível em http://pigead.lanteuff.org/mod/resource/view.php?id=4539. Acesso em 13 jun 2012.
____________________________ . Ambientes Virtuais de Aprendizagem. Disponível em http://pigead.lanteuff.org/mod/resource/view.php?id=4540. Acesso em 13 jun 2012.
____________________________ . Interfaces. Disponível em http://pigead.lanteuff.org/mod/resource/view.php?id=4519. Acesso em  6 jun 2012

FRESQUET, Adriana. Aprender com Experiências do Cinema. Rio de Janeiro: BOOKLINK/CINEAD/LISE/FE/UFRJ , 2009.

FISCHER, Rosa Maria Bueno. O dispositivo pedagógico da mídia: modos de educar na (e pela) TV. Artigo. Revista Educação e Pesquisa. São Paulo, v.28, n.1, p. 151-162, jan./jun. 2002 1 5. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ep/v28n1/11662.pdf  Acesso em 13 jun 2012.

MORAN, José Manuel. O Vídeo na Sala de Aula. Artigo. Revista Comunicação & Educação. São Paulo, ECA-Ed. Moderna, [2]: 27 a 35, jan./abr. de 1995. Disponível em http://www.eca.usp.br/prof/moran/vidsal.htm. Acesso em 14 jun 2012.

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Como gerenciar a informação na internet segundo Pierre Lévy

Em conferência na abertura do III Simpósio Hipertexto e Tecnologias da Informação, realizado na UFPE em 2010, Pierre Lévy fala sobre a necessidade de estabelecermos, como meta pessoal, uma atitude responsável diante do excesso de informação que circula na internet. Ele explica que, antes da era digital, havia um gerenciamento prévio das informações que chegavam até nós: outras pessoas e/ou instituições selecionavam o que seria “verdade”. Agora, esta é uma tarefa que nos cabe.

Tarefa que segundo Lévy é o problema da gestão do conhecimento pessoal, para cuja solução ele apresenta 8 passos cíclicos a cumprir:

1º- Gestão da Atenção

2º- Conexão com fontes confiáveis

3º- Coleta e agregação de informações

4º- Filtragem

5º- Categorização da Informação

6°- Registro na memória de longo prazo

7°- Síntese

8º… Reavalição dos passos anteriores.

Esta seria a responsabilidade pessoal de cada um que está conectado em rede, fundamental para a formação da Inteligência Coletiva – que surge da interação de cognições pessoais, da aprendizagem e comunicação interpessoais.

Os vídeos da conferência de Pierre Lévy estão dispostos no Blog do Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologia na Educação da UFPE. O que está descrito aqui corresponde apenas a parte inicial desta conferência apresentada no primeiro vídeo:

 

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Engano-me, logo existo.

Esta frase de Santo Agostinho – em latim fallor ergo sum – proferida antes da outra mais famosa, a de Descartes, aponta uma característica fundamental nos seres humanos: somos falíveis. Nos enganamos, nos equivocamos, erramos – mesmo que não gostemos disso.

E em que isso importa? Talvez admitir os nossos erros não seja o suficiente para redmí-los. Mas ler os sinais de que as nossas certezas caminham em um terreno pantanoso pode conduzir nossos passos em rumos menos equivocados.

“Sobre  estar errado” foi tema da palestra da jornalista Kathryn Schulz  no TED sobre o qual acho que vale a pena refletir.

Clique na imagem e veja o vídeo:

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Polêmica sobre correção gramatical

A Coleção de livros didáticos “Viver Aprender” da Editora Global distribuída pelo MEC em 2011 para as classes de EJA adota princípios e indicações constantes nas Diretrizes Curriculares Nacionais  para o segmento (Estatuto da EJA / 2000) e procura inserir conhecimentos de forma contextualizada e interdisciplinar.

Segundo os próprios autores do livro, os temas e atividades propostos procuram favorecer o debate, a busca de novos conhecimentos e a participação ativa na sociedade.

Um dos livros da coleção levanta discussão sobre o “falar certo”:  a variedade popular, a adequação ou inadequação dos falares e a norma culta. A expressão “Os livro” em uma frase utilizada como exemplo e a defesa de que esta forma de falar, dependendo do contexto, estaria correta levantou extensa polêmica que o professor Ataliba Castilho, ao meu ver, conclui com muita propriedade na entrevista que concede a Ederson Granetto no canal da UNIVESP TV:

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Educação e Mudanças…

As formas de fazer a educação estão se modificando. Às vésperas do século XXI, a Lei Diretrizes e Bases da Educação no Brasil procurava reorientar e reestruturar o ensino e formas de ensinar. Mas “ainda” estamos nos adaptando a elas.

No dia a dia constatamos: de um lado exigênscias de novas metodologias e novas tecnologias e do outro estruturas e práticas estabilizadas que necessitam se reorganizar.

De um lado currículos engessados e metas a cumprir organizativos do e para o controle do Estado. Do outro anseios e necessidades de aprendizagens mais personalizadas e ao mesmo tempo colaborativas (por projetos).

Se, como equacionar estas questões é um problema nas mãos dos educadores (entre pais, professores e instituições); entender porque as mudanças seriam necessárias é mais fácil: veja o vídeo abaixo.

 

*Opte, abaixo do vídeo em  Choose Language por “Portuguese (Brasil)”  para aparecer a legenda.

RSA Animate – Changing Education Paradigms – 15 Translation(s) | dotSUB.

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Professores e Fracasso Escolar

Este é o título do texto publicado pelo Professor Jarbas, em seu  Boteco Escola, onde reproduz as críticas de historiadora dos EUA sobre processos de privatização da educação pública naquele país.

Parece que lá, como cá, algumas concepções se repetem…

Segue o texto do professor sobre o assunto:

Professores e Fracasso Escolar

CONTEXTO

Dia primeiro de outubro foi lançado nos Estados Unidos um documentário que vem merecendo imensa cobertura de mídia: Waiting for ‘Superman’. O filme aborda dramaticamente a candidatura de cinco crianças a sorteios para vagas em Charter Schools -escolas administradas por instituições privadas e mantidas por meio de transferência de dinheiro público. A obra foi dirigida por Davis Guggenheim, um documentalista que ficou famoso ao produzir filme sobre a atuação de Al Gore, ex-presidente americano, na área ambiental.

Entre os comentários que saíram na mídia americana, há um que merece destaque, o da historiadora Daine Ravitch, publicado no blog do New York Review of Books. Nas linhas que seguem, faço um resumo das opiniões de Diane. Acho que os comentários dela podem lançar muita luz sobre como os professores são vistos, principalmente na atual administração da educação no estado de São Paulo. Vamos pois às observações da Diane.

THE MYTH OF CHARTER SCHOOLS (resumo)

Diane Ravitch

Waiting for “Superman”
a film directed by Davis Guggenheim

Badalado pela mídia – Time, New York Times, Oprah Winfrey Show, jornais da rede de televisão NBC  (com direito à entrevista com o presidente Obama) – Waiting for ‘Superman’ vem merecendo muita atenção. Outros filmes sobre o mesmo tema – The Lottery e The Cartel – tiveram cobertura muitíssimo mais modesta.

Waiting for ‘Superman’ – assim como os outros filmes atrás menciondos – apresenta uma visão popularizada de idéias sobre educação pública americana que vêm sendo promovidas por algumas figuras e instituições muito poderosas do país.

Mensagem central dos três filmes: a educação pública fracassou; e o problema não é dinheiro, as escolas públicas gastam muito; os desempenhos dos estudantes são ruins por causa de maus professores, cujos empregos são protegidos por poderosos sindicatos; os alunos abandonam os estudos porque a escola fracassou com eles. Mas, os alunos poderiam atingir qualquer meta exigente se fossem salvos de seus professores incompetentes. Teriam notas melhores se as escolas públicas pudessem dispensar os maus professores e contratar bons profissionais de educação. Hoje, a única saída para as crianças, especialmente as desfavorecidas, é escapar da escola pública e ingressar numa Charter School, financiada com recursos públicos e administrada por instituições privadas, muitas delas buscando lucro neste nicho de mercado.

Para The Cartel a solução não é apenas a de criar mais Charter Schools, mas também a de fornecer auxílio financeiro ás famílias para que estas matriculem seus filhos em escolas privadas de sua escolha. O filme nos leva a acreditar que os professores nas Charter Schools e nas instituições privadas serão cuidadosos e competentes. Numa e noutra, as crianças terão sucesso apesar de suas origens. The Lottery ecoa o roteiro de Waiting for ‘Superman’, retratando alunos desesperados para evitar ingresso em escolas públicas do Harlem.

Para muita gente, o quadro pintado pelos filmes exige abandono de uma velha crença. Pessoas que se formaram nas boas escolas públicas americanas  não vêem razão para a privatização. Essas pessoas são de um tempo – que hoje parece distante – em que se acreditava que o desempenho das crianças nas escolas era determinado pelos próprios esforços destas, por circunstâncias, por apoio familiar, não pelos professores. Havia bons, médios e até maus professores, mas as crianças aprendiam. Maus professores não eram obstáculos para a aprendizagem.

Recente levantamento realizado pela Gallup aponta que a população não está satisfeita com  a educação pública, e, ao mesmo tempo, registra que 77%  dos pais atribuem notas A ou B ás escolas públicas frequentadas por seus filhos. Esses índices de avaliação são os mais altos desde 1985, ano em que a Gallup começou a fazer esse tipo de registro.

Waiting for ‘Superman’ e os outros dois filmes citados apelam para uma apreeensão geral de que o país está perdendo competitividade no mundo globalizado. No quadro de uma economia em crise, índices persistentes de pobreza, crianças pouco motivadas para o estudo, as películas em análise descobrem apenas dois culpados: as escolas públicas e seus professores. Não se atribui qualquer culpa à globalização, à desindustrialização, à pobreza, á cultura jeca do país, ou às práticas predatórias no campo das finanças.

Gulggenheim, diretor de Waiting for ‘Superman’, em entrevista  declarou que na sua infância já se preocupava com o destino de gente que frequentava a escola pública. Narra que essas  suas preocupações nasceram ao ver no caminho para sua escola privada, Sidewell Friends, pais deixando seus filhos em frente das escolas mantidas e administradas pelo estado. E essa circunstância o inspirou para realizar o documentário sobre Charter Schools.Vale salientar que Sidewell Friends, uma instituição particular para a alta elite de Washington, é frequentada hoje pelas filhas do presidente Obama.

O fime de Guggenheim conta a estória de cinco crianças que estão na Lottery (no sorteio) para ingresso em Charter Schools de suas regiões. Os depoimentos mostram famílias que desejam ver seus filhos fora da escola pública. Uma das crianças, matriculada numa escola católica que a mãe não está conseguindo pagar, é a única que já teve opção de não frequentar o ensino oferecido pelo estado. Das crianças, quatro são de extração negra ou hispânica. Apenas uma das crianças é anglo-saxônica e mora num subúrbio de classe média alta. O filme mostra as crianças com sua famílias, seus sonhos de futuro. Todas são amadas. Desde o início os espectadores se identificam com aquelas famílias dedicadas e preocupadas com o futuro de seus herdeiros.

Quais são as chances que as crianças têm de  ingressar na desejada Charter School? Poucas. A relação vagas/candidatos gira em torno de 1/15. Ou seja, na Lottery, 14 crianças ficarão de fora. Provavelmente terão de ir para uma escola pública que oferece vagas para todos.

Logo no início, o filme mosta os seguintes personagens:

  • Geoffrey Canada, presidente da Harlem Children’s Zone,ONG de serviço social que administra 4 Charter Schools.
  • Michell Rhee, executiva que exerce o papel de chanceler do departamento de educação da cidade de Washington, famosa por fechar escolas cujos alunos não conseguiram boas médias nos exames nacionais de desempenho escolar, e por demitir de modo sumário professores e diretores de escolas consideradas ineficientes.
  • David Levin e Michael Feinberg, criadores da KIPP Charter Schools, uma rede com mais de 100 escolas inauguradas nos últimos 16 anos.
  • Randi Weingearten, presidente da American Federation of  Teachers, apresentado como um dos vilões da estória.

Canada, Rhee. Levin e Feinberg são as estrelas centrais do documentário. Mas, Bill Gates e outros presidentes de fundações que fazem doações expressivas para Charter Schools aparecem também em cena. Como heróis, é claro.

Nenhuma escola pública decente é mostrada. Nenhum professor ou diretor da tradicional educação pública dos EUA aparece como alguém competente. O documentário ignora qualquer experiência significativa e de valor em escolas comuns mantidas com recursos orçamentários.

Cito integralmente um trecho do texto de Diane Ravitch:

A situação é terrível, o filme nos adverte. Mas, o que devemos fazer? A mensagem do filme é clara. Escolas públicas são más, escolas administradas privadamente (Charter Schools) são boas. […] Se púdessemos demitir de 5 a 10% dos professores deficientes a cada ano, diz um economista da Hoover Institution, nosso desempenho em matemática e ciência se aproximaria logo dos resultados obtidos pelos cinco países de maior sucesso escolar no planeta.

O filme registra que apenas 1 entre 5 Charter Schools é capaz de garantir os maravilhosos resultados prometidos. Mas cala-se quanto a isso daí para a frente.

Resultados de pesquisa realizada Por Margaret Raymond, quanto a desempenho de alunos das Charter Schools em matemática e ciência mostram o que segue:

  • 17% delas apresentam resultados (médias) superiores ao de escola pública objeto de comparação.
  • 37% delas apresentam resultados inferiores ao de escola pública objeto de comparação.
  • 46% delas não apresentam diferenças significativas quando comparadas com escolas públicas.

A proporção de Charter Schools maravilhosas é inferior a 17 por cento. Os números não confirmam as crenças dos reformadores e dos defensores da solução privatista.

Por que Guggenheim não deu devida atenção a Charter Schools administradas por instituições lucrativas e que apresentam péssimos resultados em termos de desempenho escolar de seus alunos? Sabe-se que há duas vezes mais Charter Schools que fracassam do que as que obtêm sucesso. Fica mais uma pergunta: por que o filme foge desses números?

Waiting for ‘Superman’ tem fins propagandísticos. Nada diz sobre a grande variedade de Charters Schools (boas, ruins, medíocres, péssimas). Há excelentes Charter Schools, assim como há excelentes escolas públicas. E há mais perguntas sobre assuntos que o filme não aborda. Por que não mostrar muitos dos podres de certas Charter Schools? Por que ficam de fora do documentário casos comprovados de corrupção, de uso indevido de recursos públicos, de baixos desempenhos escolares dos alunos?

Guggenheim parece acreditar que os professores sozinhos podem superar os efeitos da pobreza  sobre os alunos, apesar de existirem incontáveis estudos demonstrando a ligação entre baixos ingressos financeiros e fracasso escolar. Numa sequência, o diretor do documentário apresenta a história do piloto Chuck Yeager quebrando a barreira do som, para admiração de pessoas que não acreditavam que ele conseguiria realizar tal façanha.  Depois de mostrar o evento de quebra da barreira do som por um  piloto determinado, Guggenheim constrói uma analogia. Sugere que, assim como Chuck Yeager quebrou a barreira do som, nós precisamos estar preparados para acreditar que professores competentes e determinados é tudo o que é necessário para superar as desvantagens da pobreza, da falta de moradia, da má nutrição, dos pais ausentes etc. Estranha analogia!

O filme tem uma tese central: a idéia de que o principal fator para o desempenho dos alunos é o professor. Mas, essa proposição é falsa. Pesquisas de Hanushek mostram que a qualidade dos professorfes é responsável por 7,5 a 10% do ganho de notas pelos estudantes. Outros estudos de alta qualidade vão no mesmo rumo, indicancdo que os números quanto à responsabilidade dos professores em resultados de aprendizagem ficam entre 10 e 20%. Os professores são o fator mais importante no interior da escola. Mas, escolas e professores não são fatores exclusivos nessa história. As mesmas pesquisas indicam que os fatores externos são mais importantes que os professores. De acordo com Dan Goldhaber, economista da Universidade de Washington, fatores não escolares chegam à casa dos 60%. E tais fatores estão fora do controle de escolas e professores. Os professores podem ter grande influência sobre seus alunos, mas seria muito ingênuo acreditar que os professores sozinhos podem desfazer prejuízos causados pela pobreza e pelos males a ela associados.

Guggenheim foge do problema da pobreza mostrando em seu documentário apenas famílias intactas e dedicadas a ajudar as crianças para que estas obtenham bons resultados nas escolas. Todos os casos contados são de “boas famílias”. Nada de crianças com famílias desfeitas, nada de crianças com necessidades especiais. O diretor do documentário também nada fala sobre as Charter Schools que matriculam número representativamente baixo de crianças provenientes de famílias cujo idioma do lar não é o inglês.

O filme não reconhece que a idéia original das Charter Schools entrou no cenário educacional sobretudo por causa da insistência de Albert Shanker, presidente da American Federation of Teachers. Shanker sugeriu a ideia em 1988 para um grupo de docentes de escolas públicas. Sua proposta era a de uma escola especial para os alunos mais necessitados, experimental e flexível, capaz de obter resultados que poderiam ser aproveitados pelas escolas públicas em busca de melhorias. Em 1993, Shanker retirou seu apoio a Charter Schools ao perceber que a idéia estava sendo aproveitada por organizações interessadas em privatizar a educação nos  EUA. Michelle Rhee, chanceler do departemento de educação de Washington, foi empregada da Education Alternatives, uma organização que promove ações na direção contrária à proposta original de Shanker.

As Charter Schools de hoje não estão estruturadas para colaborar com as escolas públicas. Elas estão organizadas para competir com as escolas administradas pelo poder público. E, como acontece em mercados competitivos, elas querem eliminar a concorrência. Elas são uma cunha no sentido da privatização. Depois de NCLB (No Child Left Behind), um programa do governo federal orientado por avaliações de desempenho escolar, as Charter Schools buscam alunos que possam obter bons resultados nos testes e livram-se de alunos “fracos” que podem comprometê-las.

No filme aparecem distorções na interpretação de dados. Isso acontece, por exemplo, com as considerações que faz sobre resultados acadêmicos dos alunos de escolas públicas de acordo com dados reunidos pelol governo federal. Em certo ponto da narrativa, o documentário afirma que 70% dos graduandos do ensino médio não conseguem ler. A conclusão está errada. Na verdade, os dados indicam que 25% dos alunos estão abaixo daquilo que é considerado básico.

Guggenheim trata bem seus heróis. Este é o caso, por exemplo, de Geoffrey Canada, celebrado pela criação da ONG Harlem Children’s Zone. O filme não deixa claro que a ONG de Canada recebe altas somas de entidades filantrópicas. Essa circunstância contraria a tese de que as escolas públicas já têm muitos recursos financeiros. Canada faz um bom trabalho, mas com muito mais dinheiro. Com os recursos similares aos recebidos pela Harlem Children’s Zone as escolas públicas poderiam fazer muito mais.

Melhores resultados (sucesso) das Charter Schools é um mito. Mesmo nas escolas de G. Canada, há muitas crianças que não alcançam proficiência. Em 2010, numa de suas escolas, 60% dos alunos não eram proficientes em leitura; em outra, a ausência de domínio aceitável de leitura chegava a 50%. É preciso notar que Canada colocou para fora uma classe inteira de ensino básico porque esta não obteve notas que agradassem o conselho de sua organização. Volto a citar Ravitch:

Ao contrário da mitologia e do que sugere Gugggenheim, mesmo as Charter Schools com os melhores serviços não conseguem reverter completamente os efeitos da pobreza.

O cineasta ignora outros fatos de uma boa história. Ao mesmo tempo que bate forte nos sindicatos, ele aponta a Finlândia como uma nação cujo sistema educacional os EUA precisam imitar. Mas, não explica que a docência naquele país é toda ela sindicalizada, Nem diz que a Finlândia testa seus estudantes raramente. A estratégia do país nórdico é a de investir na preparação, apoio e retenção de excelentes professores. Não atinge excelência demitindo de 5 a 10% de seus docentes anualmente, mas construindo o futuro com paciência. A Finlândia tem um currículo nacional que não se restringe ao básico, mas inclui arte, ciência, história, idiomas estrangeiros. O país, além de tudo, amplia seus programas sociais para os familiares das crianças. Guggenheim simplesmente ignora as realidades do sistema finlandês. Sistema, aliás, financiado e administrado diretamente pelo estado. Trata-se de uma educação inteiramente pública.

Em qualquer reforma se coloca o problema da “escala”. A proposta pode produzir efeitos em larga escala?  O fato de que uma escola possa produzir resultados admiráveis não é em si fator capaz de demonstrar que outras escolas poderão fazer o mesmo.

Muitos exemplos utilizados pelo cineasta não trouxeram mudanças significativas. Este é o caso, por exemplo, da Locke High School de Los Angeles, transformada em Charter. A proficiência em inglês na Locke High em seus últimos anos como instituição pública era de 13,7%. Depois que se converteu em Charter School, tais resultados tiveram um aumento irrisório, foram para 14,9%. Em matemática, os números foram de 4% para modestos 6,7%.

Outro exemplo que mereceu destaque no filme é a Escola SEED de Washington. O filme e o programa 60′ Minutes da CBS mostram que seus alunos tem um notável índice de aceitação pelas universidades. Mas, a SEED gasta US$35.000 por aluno/ano, três vezes mais que o gasto pelas escolas públicas. É bom recordar que o cineasta diz que há recursos suficientes na rede pública, mas estes são mal aplicados. E no caso da SEED, Guggenheim não explica porque esta Charter School gasta três vezes mais que a média do dinheiro investido por aluno na rede pública do país.

Guggenheim parece exigir que as escolas públicas demitam os maus professores. Mas, não nos diz como é difícil identificar maus professores. Em escolas frequentadas pela elite (escolas de subúrbio de classe média alta) os professores são bons, uma vez que os resultados de aprendizagem costumam ser satisfatórios. É isso mesmo? Ou será que os alunos de escolas frequentadas por pobres continuarão a fracassar, passando a falsa idéia de que a culpa é de maus professores?

Waiting for ‘Superman’ é o mais importante golpe de relações públicas que os críticos da educação pública aplicaram até agora. Seu poder não pode ser desconsiderado. Durante muitos anos, os críticos da direita pediam vouchers – grana do governo para que os pais pudessem pagar escolas particulares de sua escolha para os filhos – e nada conseguiram. Agora, muitos deles estão olhando admirados suas propostas de privatização migrarem para as elites liberais. Apesar de seus duvidosos resultados, as Charter Schools são apoiadas pela administração Obama e por fundações de empresários de extração democratra. As Charter Schools representam uma séria ameça para a educação pública.

Convém mencionar que as nações com sistemas escolares de alto desempenho – Coréia, Singapura, Finlândia e Japão – obtiveram sucesso não pela pela privatização de suas escolas ou fechando aquelas que apresentavam baixos desempenhos, mas fortalecendo o ofício de educar (em instituições públicas). Elas também tem menores índices de pobreza que os EUA. Aqueles que insistem que a pobreza não conta, mas apenas os professores, ignoram tais constrastes.

Se formos sérios, como a Finlândia, na tarefa de melhorar nossas escolas, devemos ser sérios no modo de tratar nossos professores. É preciso boa formação. Seleções bem feitas. Salários dignos. Melhores condições de trabalho. Guggenheim reclama que apenas 1 entre cada grupo de 2.500 professores perde seu registro anualmente por inadequação para a docência. Mas, ele deixa de informar que 50% daqueles que ingressam na profissão deixam-na nos cinco primeiros anos, principalmente por causa das péssimas condições de trabalho, falta de recursos adequados, e estresse na lida com crianças difíceis e pais desrespeitosos.

Há uma colisão de ideias acontecendo em educação, bem agora, entre aqueles que acreditam que a educação pública não é somente um direito fundamental, mas também um serviço público vital, e aqueles que acreditam que o setor privado é sempre superior ao setor público. Waiting for ‘Superman’ é uma arma poderosa daqueles que promovem a privatização. Levanta questões importantes, mas todas as respostas que ele oferece sugerem transferência de dinheiro público para o setor privado. O rombo financeiro de 2008 deveria ser suficiente para nos lembrar de que os gestores do setor privado não têm o monopólio do sucesso.

AQUI ENTRE NÓS

Não sei se Waiting for ‘Superman’ virá para o Brasil. Mesmo que não venha, privatistas de todas as cores entre nós usarão o filme para malhar a escola pública e os professores. Não é de hoje que economistas e outros curiosos da educação dizem que o problema educacional brasileiro é de gestão. Em outras palavras, dizem que medidas privatistas seriam a solução. Faz uns três dias que ouvi de um desses senhores na TV que a administração da educação em todos os níveis precisa de especilistas em gestão.

LEITURAS ADICIONAIS

Há muitas matérias sobre o filme de Guggenheim na Internet. Destaco duas delas:

Original publicado em: http://jarbas.wordpress.com/2010/11/17/professores-e-fracasso-escolar/

 

 

 

 

 

 

 

 

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Que tipo de educação querem os jovens?

“Para que os projetos educativos para os jovens sejam mais significativos, é preciso que a juventude tenha participação ativa no processo.”

O Parlamento Junvenil do Mercosul  é um projeto que nasceu com o objetivo de abrir oportunidades para os jovens participarem da troca e do debate de questões relacionadas a suas vidas no presente e no futuro.

Nos dias 16, 17 e 18 de outubro de 2010, 110 representantes de Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Paraguai e Uruguai, se reuniram em Montevidéu com o objetivo de compartilhar suas visões e idéias, refletindo sobre o ensino médio que querem na região.

A partir das discussões levantadas nestas reuniões elaboraram, em consenso, uma declaração onde propuseram ações e políticas relacionadas a cinco eixos temáticos, sendo a mesma entregue às autoridades políticas representantes dos países constituintes do bloco.

O texto desta declaração sobre o ensino médio que querem os jovens está reproduzido a seguir.

DECLARAÇÃO DO PARLAMENTO JUVENIL DO MERCOSUL

Nós, os jovens estudantes, reunidos aqui em Montevidéu, Uruguai, para a primeira Assembléia do PARLAMENTO JUVENIL DO MERCOSUL nos dias 16, 17 e 18 de outubro de 2010. Dentro deste processo de diálogo e debate, que nos serviu para elaborar propostas com o objetivo de construir: O ENSINO MÉDIO QUE QUEREMOS, baseados nos seguintes cinco eixos temáticos, os quais são:

1- Inclusão Educativa:

a. Inclusão do ensino das línguas oficiais dos países integrantes do MERCOSUL, segundo o critério dos sistemas educativos de cada um dos países.

b. Integracão de todos os alunos sem importar seu setor social, etnia ou capacidade. Para isto é necessário que existam uma infra-estrutura e uma equipe multidisciplinar adequadas.

c. Orçamento distribuido equitativamente. Transporte e merenda escolar gratuitos e obrigatórios.

d. Existência de equipes multidisciplinares de psicólogos e pedagogos para o monitoramento da educação.

e. Garantir uma educação pública, obrigatória, laica e gratuita.

f. Fortalecimento e difusão das leis de mobilidade estudantil.

g. Ramificação do ensino no nono ano.

2- Jovens e trabalho

a. Exigência de orientação vocacional e direito trabalhista a nível obrigatório e convênios com empresas para a realizacão de estágios.

b. Criação de carreiras técnicas variadas de acordo com os fatores

geográficos.

3- Participacão cidadã

a. Implementacão de conselhos de participação (professores, pais, sociedade, etc.) e de organizações juvenis para a tomada de decisões a nível da educação e de questões democráticas.

b. Criar uma página web onde todos os jovens possam colocar suas propostas e questionamentos, como ser um jornal eletrônico administrado pelos jovens.

c. Criacão de espaços onde sejam tratados assuntos escolhidos pelos estudantes da mesma aula.

d. Que os meios de comunicação do Estado divulguem obrigatoriamente a participação dos jovens.

4- Gênero

a. Deve-se fomentar o equilíbrio de direitos entre homens e mulheres por meio da educação desde cedo, para não gerar discriminação e promover a equidade.

b. Que toda jovem grávida possa finalizar seus estudos a través dos

meios adequados a sua situação.

5- Direitos Humanos

a. Concientização e educação em direitos humanos e meio ambiente em um eixo transversal em todas as disciplinas e desde cedo.

b. Tratamento de temáticas relacionadas com o passado recente da

Latinoamérica, golpes de Estado ou outras ações relacionadas com a eliminação ou destruição dos direitos humanos.

c. Criar projetos para a presevação do meio ambiente como reciclagem, reutilização e outros.

d. Acompanhar e monitorar jovens que praticam e sofrem agressões.

e. Educação em sexualidade.

Finalmente queremos deixar claro que as e os jovens temos nas nossas mãos a construção dos Nossos projetos de vida, mas para isso precisamos não somente de um voto de confiança como também de condições intelectuais e materiais que o façam possível desde hoje e desde diferentes espaços.

Queremos e exigimos a institucionalização do ¨PARLAMENTO JUVENIL DO MERCOSUL¨ na região, integrado por jovens provenientes de todos os países plenos e associados do bloco, escolhidos democraticamente pelos seus colegas.

Propomos que o ¨PARLAMENTO JUVENIL DO MERCOSUL¨ seja realizado a cada dois anos, incluindo um ano de trabalho prévio, em cada um dos países.

Exigimos que as nossas autoridades levem em consideração as propostas deste documento e com isto nos ajudem e nos apoiem para construirmos o Ensino Médio que queremos.

Parlamento Juvenil do MERCOSUL

É necessário considerar que esta declaração vai além daquilo que nela está proposto. A participação dos jovens nas diversas etapas do Parlamento Juvenil lhes dá a vivência do processo democrático, onde a atuação política se faz de forma mais contundente que a simples manifestação de um voto. Ela se exercita na expressão, reivindicação e defesa de interesses coletivos.

Um aprendizado que além dos frutos do presente, lança boas sementes ao futuro…

Texto original encontrado em: http://parlamentojuvenil.educ.ar/wp-content/uploads/2010/10/Declaracion-Parlamento-Juvenil-Port.pdf

Mais informações sobre o projeto do Parlamento Juvenil em: http://parlamentojuvenil.educ.ar/

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Levanta Cabeça!

A escritora Marina Colasanti, escreveu ao final de Eu sei, Mas não Devia, as seguintes palavras:

…A gente acostuma

Para não se ralar na aspereza,

Para preservar a pele.

Se acostuma para evitar feridas,

Sangramentos,

Para esquivar-se da faca e da baioneta,

Para poupar o peito.

A gente se acostuma para poupar a vida

Que aos poucos se gasta

E que, gasta,

De tanto acostumar,

Se perde de si mesma.

Muitas são as coisas com as quais não devíamos nos acostumar, e uma delas seria não aceitar “ser menos”. O processo de aceitação e valorização de si mesmo é fundamental para o crescimento individual – a isto chamamos auto-estima.

Em algumas situações é preciso superar muitos obstáculos que minam a auto-estima, e que se situam nos ambientes nos quais circulamos, nos preconceitos que enfrentamos, no favorecimento de alguns em detrimento dos outros, antes mesmo de se situarem em nós…

Às vezes, a gente se acostuma – não devia, mas se acostuma!

As palavras de Marina Colasanti refletem uma realidade conhecida, e é por conta desta realidade não justa, é que algumas ações precisam ser desenvolvidas.

Parabéns àqueles que, além da percepção sobre o fato, tiveram a iniciativa de propor o projeto Levanta Cabeça:

As histórias de superação contadas neste projeto merecem ser ouvidas.

Que outras mais se tornem públicas!

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Índices de felicidade

Muito se comenta sobre os índices de IDH alcançados pelo Brasil frente aos demais países do mundo. Mas dos índices de felicidade pouco se ouve falar.

A Forbes publicou uma tabela  que demonstra que, em geral, nos países mais ricos os índices de felicidade são maiores. 

Podemos comparar estes índices visualmente através do mapa mundi publicado no site Target Map:

HAPPINESS MAP

HAPPINESS MAP
View more maps

Países como o Brasil seriam contraditórios se as pessoas em todos os lugares tivessem o mesmos conceitos de bem estar ou felicidade…

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